A privação de liberdade não levou o sonho de ascensão social do reeducando F.S.S., um dos cinco formandos da primeira turma da Educação de Jovens e Adultos (EJA) do ensino fundamental II de detentos da Unidade Prisional Manoel Neri da Silva, de Cruzeiro do Sul.
Durante a formatura, realizada naquele complexo penitenciário na tarde desta quinta-feira, 27, o reeducando de 34 anos relatou que a aquisição de conhecimento lhe traz a certeza de uma mudança no curso de sua vida, além de ser uma ponte para a conquista de um amanhã mais promissor. “Cheguei aqui com apenas o 4º ano do ensino fundamental e hoje concluo essa etapa. O momento me proporciona uma imensa alegria, pois o meu objetivo lá fora [quando for reintegrado à sociedade] é mudar de vida; e os estudos vão me ajudar a ser uma pessoa melhor”, planeja.
A ação, promovida pelo governo do Acre, por meio da parceria entre a Secretaria de Educação (SEE) e o Instituto de istração Penitenciária (Iapen), órgão da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp), foi essencial para que o detento siga motivado a cursar o ensino superior. “Pelas experiências difíceis que já ei, estudar renovou o meu desejo de cursar enfermagem, para cuidar da vida das pessoas que buscam tratamento”, relatou.

No discurso de agradecimento, o detento J.S.B. expressou gratidão ao Estado e reforçou a diferença da política na vida dos que buscam reconquistar o direito de ir e vir: “Cada um de nós trouxe para cá sonhos. Aqui aprendemos a ser resilientes e a enfrentar desafios. Gratidão, pois cada conquista, como é a conclusão do ensino fundamental, é um motivo de celebração para nós”.
Outro fruto da iniciativa é que, para cada 12 horas de estudos, há a redução de um dia no cumprimento da pena em regime fechado. Segundo o diretor da unidade prisional, Elvis Barros, o critério usado para a escolha dos estudantes é o bom comportamento dos reeducandos. “Estamos dando aos presos uma oportunidade de não somente ter direito à remição de pena, mas também de mantê-los com a mente ocupada na preparação, por meio do ensino, para o mercado do trabalho. Nossas metas para 2025 são ampliar o número de vagas para a modalidade, além de implantar o ensino médio”, informou.

Ao longo de dois anos e meio, a modalidade foi oferecida pela Escola Plácido de Castro. A celeridade na conclusão da etapa foi possível graças uma mudança promovida na matriz da EJA. “Eles estão privados de liberdade, mas não do o ao conhecimento. Por meio da nova matriz, foi possível formá-los num curto período, promovendo a cidadania dessas pessoas”, observou o coordenador local da EJA, José Adriano Silva de Oliveira.